Para se compreender a utilização da imagem feminina nas campanhas publicitárias, é preciso entender como a sua imagem foi empregada durante todos esses anos
Gabriele Arcanjo
Fonte: cepein.femanet.com
Em: 31.05.2021
A imagem
feminina, durante toda a história, foi sempre relatada como uma figura
de submissão ao homem (pais ou maridos), sendo totalmente excluídas a
qualquer tipo de escolha ou opinião que poderiam ter, sendo destinadas apenas a
afazeres domésticos e para a procriação. Pode-se concluir que as mulheres
eram responsáveis apenas pelos cuidados do lar e dos filhos, tornando assim,
este um espaço privativo delas, tendo em vista que era essa a posição
feminina perante a sociedade durante aquela época. Este é um ponto fundamental
para que se entenda a representação do gênero feminino durante os
anos.
Por
vários anos a imagem da mulher em propagandas era sendo retratada e
explorada de forma intensa pela mídia, principalmente pela publicidade.
Desde o começo, a publicidade já mirava na figura da mulher como objeto de
consumo e produto de desejo em alguns segmentos. Nas propagandas de
cerveja, não era diferente e isso pode ser visto em toda sua evolução. As
peças publicitárias das grandes mídias, como a televisão, também ganharam este
caráter de utilizar a imagem da mulher, retratando-a como objeto de desejo e
consumo.
Para
autora Flailda Brito Garboggini, a liberdade feminina ocorreu após as
consequências dos movimentos feministas. Durante a década de 70, ocorreu o
aumento dos números de estudantes do sexo feminino em todos os ensinos
escolares, ampliando assim, a sua participação no mercado de trabalho.
Segundo Garboggini (2003), durante esse período, as mulheres começaram a questionar
a maneira como a publicidade estava expondo a sua imagem e a insistência em
um “padrão” diante das suas propagandas, pois eram representadas como dona de
casa ou símbolo sexual na publicidade. E que mais as revoltava era a utilização
constante desses estereótipos, pois elas já estavam ocupando funções
profissionais importantes, possuindo total responsabilidade em funções que
antes eram somente representadas por homens.
Segundo
a autora, a publicidade, a partir da década de 90, vem tomando novas
tendências, em que a utilização de persuasão utilizada na década de 80
começa a dar espaço para a utilização do entretenimento em suas propagandas. Além
disso, para a autora a forma como a publicidade representava a mulher da década
de 90 até hoje nos anos 2000, vem mudando. Ela deixou de ser vista só como
dona de casa para atuar em várias funções e profissões.
O lugar da mulher algumas décadas atrás. Legenda: nodeoito.com |
Budweiser recria para 2019 seus anúncios
machistas dos anos 50
A era de ouro da
publicidade nos Estados Unidos, nos
anos 1950, pavimentou o caminho do marketing nas décadas seguintes e
se tornou icônica por revolucionar o modo como um produto era vendido
aos consumidores. São
dessa época aqueles famosos anúncios com ilustrações de homens e mulheres
em seus lares no melhor estilo "American Way Of Life" - estilo
de ilustração que depois seria cooptado pela Pop Art de Andy Warhol e Roy
Lichtenstein.
O problema é que os anos 1950 e 1960 da publicidade foram extremamente machistas,
reproduzindo tipicamente o que era a sociedade daquele tempo. De frases como
"Até uma mulher pode abrir isso?" até anúncios onde um homem bate em
uma mulher ou a usa como tapete de sala. A publicidade vigente mostrava uma
mulher submissa ao marido, obrigada a agradá-lo incondicionalmente entre suas
inúmeras atribuições domésticas.
A fabricante de cerveja Budweiser decidiu recriar anúncios sexistas dos anos 1950 em 2019, mas para alguns se tornaram anacrônicos e ofensivos. No entanto, para a marca, parece que nunca é tarde para corrigir os erros do passado. A Budweiser, em parceria com a campanha #SeeHer (que luta pela representação adequada da mulher na publicidade), decidiu refazer as suas campanhas dos anos 1950, redesenhando anúncios e reescrevendo as frases de efeito.
Nas recriações da Budweiser, os cartazes onde apenas o
homem bebia cerveja e a mulher estava ali para servi-lo integralmente foram
recompostos na visão das artistas Heather Landis, Nicole Evans e Dena Cooper. Equidade
e independência no lugar do machismo e da objetificação.
Anúncio de 1958
Nesse caso, a frase foi mantida: "Onde há vida, há Bud". A
diferença crucial está na imagem. Enquanto a vida com Budweiser nos anos 1950 era restrita ao homem
(enquanto ele martela, a esposa serve a gelada), em 2019 a coisa é mais
simples: o casal aprecia a cerveja junto.
"Ela descobriu que tem tudo" Legenda: lacriaturacreativa.com |
Anúncio de 1956
O anúncio original falava que a mulher havia casado com
"dois homens" porque o marido sempre tem um "eu interior" e
que uma maneira de o agradar era com uma Budweiser. Na imagem, o marido chega
de viagem enquanto ela espera com uma grinalda. Na recriação de 2019, o anúncio
diz "Ela descobriu que tem tudo". Esperando por ela, três amigas no
bar. Afinal, nem tudo se resume a casamento.
Propagandas Antigas Machistas
O machismo na publicidade ecoou aos quatro cantos do mundo ao
longo da história. Antigamente, os papéis na sociedade eram diretos: homem
vai trabalhar, mulher cuida da casa. Produtos eram feitos e anunciados
especificamente para as mulheres, neste caso, utensílios domésticos saíam na
frente.
Quando produtos eram voltados para os homens, era nítida uma desvalorização
da imagem feminina. Os produtos eram variados: bebidas, roupas masculinas e
até armas.
Cigarrilhas Tipalet -
1969
Veiculado em 1969 nos Estados Unidos. Legenda: propagandashistoricas.com |
“Assopre a fumaça na cara e ela vai acompanhar você em qualquer
lugar”.
Nos
dias atuais, o anúncio das cigarrilhas Tipalet seria considerado não só
incorreto como de mau gosto. Veiculado em novembro de 1969 nos Estados Unidos.
Casa
das Cuecas (Dia dos Namorados) - 1982
“Dê
para o seu namorado. Não deixe de dar para ele: temos mais de 500 artigos
diferentes com etiquetas famosas e preços apaixonantes. Casa das Cuecas”.
Com duplo sentido totalmente descarado, a
rede paulista Casa das Cuecas promovia os seus produtos para o Dia dos
Namorados. Um apelo ousado e ao mesmo tempo divertido.
Tomorrow's
Lestoil - 1968
Imagem futurista e um título machista. Legenda: propagandashistoricas.com |
"A mulher do futuro fará da Lua um lugar limpo para se viver".
Desta
vez, apresentamos o limpador Tomorrow's Lestoil que brinca com uma imagem
futurista e um título machista:
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