O isolamento social se tornou algo essencial para as mulheres em relação a aparência
Gabriele Arcanjo
Fonte: medium/lado-m.com
Em: 04.07.20
Fazer chapinha, usar maquiagem, tirar
cutícula, depilar com cera. Esses são só alguns dos vários rituais de beleza
que mulheres realizam, não apenas para se encaixarem num padrão de beleza
pré-estabelecido, como também para se sentirem bem consigo mesmas.
Neste ano, vivemos uma realidade sem
precedentes. O mundo enfrenta uma pandemia pelo novo Corona vírus e a principal
recomendação das autoridades mundiais de saúde é o isolamento social. Sem
poderem sair de casa, muitas mulheres deixaram esses rituais de lado,
experimentando, quase que ironicamente, uma liberdade incomum nos dias normais.
Esse é o caso da comissária de bordo Isabela Veríssimo. Em sua rotina de trabalho, unhas, cabelos e maquiagem devem estar milimetricamente impecáveis: “Tem um padrão sobre penteados. O cabelo curto tem que estar na altura da gola da camisa. Para usar rabo-de-cavalo, precisa estar na altura do sutiã e, se for maior do que isso, só é permitido usar o cabelo em coque. E não pode ter um fio solto, se não tem reclamação.”
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Foto cedida por Isabela Veríssimo Imagem: medium/lado-m.com |
Com
o início da pandemia e a diminuição da quantidade de voos, ela tirou uma
licença de três meses do trabalho. Em casa, Isabela interrompeu os rituais que
costumava realizar todos os dias: “Para mim, também foi um momento para
descansar. Eu faço isso todo dia, então cansa. O máximo que eu faço é arrumar o
cabelo.”
Mas isso não significa
que a sensação proporcionada por essa interrupção é boa: “É engraçado, porque
às vezes, eu sinto falta. Há dias que eu me olho no espelho e penso ‘eu tô
horrorosa’. Não me sinto bem por não estar arrumada. A gente foi ensinada que,
para ser bonita, temos que estar maquiadas, com o cabelo arrumado, magras. Dentro
de um padrão,
mesmo.”
Algumas mulheres aproveitaram esse período
para reavaliar alguns desses costumes, como Camila Szmalko. Ela sempre tomou
cuidados para que a pele parecesse mais “uniforme”, com o uso de maquiagem.
Durante a quarentena em casa, a publicitária parou com o uso desses cosméticos.
“Comecei a valorizar algumas
características da minha pele. Tenho um pouco de sarda e de vermelhidão e acho
que são coisas que eu não vou mais buscar esconder no futuro. Antes eu pensava
‘vou sair, a obrigação é passar um rímel e arrumar a sobrancelha’. Hoje, acho
que não faz tanta diferença. De vez em quando, te coloca um pouco mais pra
cima, mas não sei se seria ainda uma obrigação.”
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Cronograma de beleza na quarentena. Imagem: segs.com |
Mesmo sendo “livres” (e haja
aspas) para fazer o que quisermos, nenhuma mulher parece verdadeiramente livre
para existir com o seu corpo natural: sem interferências de cosméticos,
alisamento, tintura no cabelo, depilação, rituais de skincare e
até procedimentos cirúrgicos. Não é à toa que, só isoladas em casa, sem ninguém
nos vendo, nos sentimos confortáveis para existirmos como somos.
Acabar com o padrão de beleza
é algo não só revolucionário como utópico. É difícil imaginar todas as mulheres
parando, para sempre, a realização desses rituais. Por ora, o que nos resta,
é trabalhar como nos sentimos em relação a nós mesmas. No fim, o
significado de “beleza” vai ser sempre complexo. Assim como é o significado de
“liberdade”.